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A pessoa errada no lugar errado


Em 1991, a repórter Anamaria de Lemos, da Revista Bizz, foi ao Castle Donnington Monsters of Rock e achou (quase) tudo uma merda.

É meio-dia. Na tenda da MTV, alguns jornalistas concorrem ao troféu "quem faz a pergunta mais idiota ao Queensryche". O dia está ensolarado, mas o vento quase derruba as barracas e guarda-sóis da área de hospitalidade.

Quem tem sorte ou bons contatos, ou um bom motivo para estar aqui - como trabalho -, tem o famoso passe amarelo VIP e pode freqüentar a área reservada às bandas. O pessoal do passe verde - jornalistas e convidados - passeia pelo gramado: velhos rockers, peruas de minissaia e salto alto (apropriadíssimos para a ocasião) e executivos das gravadoras, vestidos com suas amostras grátis -camiseta da MTV, óculos escuros do Marillion e assim por diante.

Apesar de as bandas desse 11.º Castle Donnington darem de dez a zero no glam rock falido do ano passado (Whitesnake, Poison; Quireboys), a empolgação aqui atrás é bem menor. Talvez seja a falta de celebridades. Fora membros do Almighty, Wonder Stuft e Marillion, a pessoa mais famosa é Tony Iommi, do Black Sabbath. Só que ninguém o reconhece.

Lá fora, a molecada é que sabe a maneira certa de enfrentar a maratona metálica: jeans, botas, camisetas e muitos galões de cidra voando pelo ar. Um folheto me informa que o palco de 91 é o maior jamais usado neste festival, talvez um dos maiores do mundo. No topo, dezenas de canhões esperam sua vez.

Tamanha a rapidez da ascensão dos Black Crowes que me assusto ao perceber que para sua estréia em Donnington eles serão os primeiros a enfrentar o povão. Chris Robinson, vestido de preto e dourado, está mais esquálido que nunca. Em plena luz do dia, o blues desta banda de Atlanta, Geórgia, parece totalmente errado. Só o público bem à frente do palco é que presta atenção - e isso porque não quer perder seu lugar privilegiado. Hora errada, lugar errado, banda errada.

A segunda banda do dia é o Queensryche. A área de hospitalidade de repente fica lotada. Ninguém quer ver o grupo de Seattle. Pudera: sua "preocupação" com o meio ambiente, o materialismo da sociedade americana e tal é tão falso quanto seu rock pomposo e arrastado. Alguém me diz que eles tocaram material de todos os discos. Eu não sei, não quero saber. Rock complexo e adulto? Vá catar coquinho!

E já que estamos falando disso: você quer saber o que acho do Mötley Crüe? Poderia resumir em três palavras, mas todas as três seriam impublicáveis. Como é que eles conseguem vender tantos discos? É simples: seu rock básico, sexista e ignorante é um estouro com a garotada. Pelo menos o show consegue gerar um pouco de energia, com a velha mentalidade de sexo, drogas, pizza e sexo de novo. Sexo? Troque de cabeleireiro, queridinho... Próximo!

Chegou a melhor banda do festival. Vestidos de preto como sempre, James, Lars, Kirk e Jason são recebidos como deuses. Já de cara eles tocam o novo hit, "Enter Sandman", e os gritos de "exit light/enter night" já justificam o preço do ingresso. Eles acabam de lançar o melhor disco de suas carreiras e sabem disso. "Seek And Destroy", "Master Of Puppets" "One" (com som de helicóptero, tiros e tudo) são magníficas. Mas as novas, como "Sad But True" e "The Unforgiven" são mais curtas, mais diretas, mais eficientes. A coisa mais incrível é que durante o show o céu vai ficando cada vez mais preto, o vento cada vez mais forte, o ambiente cada vez mais perfeito para a música pesada e sombria. Em 91, até São Pedro está trabalhando para o Metallica.

Quando chega a vez do AC/DC, o vento está nos congelando, mas os ânimos estão fervendo. Esta banda já tocou em Donnington e outros maiores muitas vezes. Sabe exatamente o que fazer: música de festival, vibrante, forte e grande. O AC/DC é o único grupo aqui que tem uma presença grande o suficiente para preencher este palco. As favoritas continuam sendo aquelas mesmas: "Hell´s Bells" (com Brian Johnson tocando um sino enorme no meio do palco), "Whole Lotta Rosie" (Rosie é uma boneca inflável gigantesca, loira, de lingerie vermelha e muito bem-dotada), "Back In Black", "Let There Be Rock". Para quem está lá longe, duas telas mostram as acrobacias de Angus Young. A festa termina com "For Those About To Rock", é claro... e os canhões entram em ação.

No final das contas, um dia e tanto: entre fracassos e sucessos, performances patéticas e poderosas, tivemos um pouco de tudo. Menos chuva. Até 92.

Publicada na Revista Bizz, edição 77, dezembro de 1991

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